domingo, 29 de novembro de 2009

Sete pecados capitais de RH

Em tempos onde a moda é a seleção por competências e atitudes, fiquei negativamente surpreso com a baixa qualidade de alguns dos processos que participei...

Sete pecados capitais

Em tempos onde a moda é a seleção por competências e atitudes, fiquei negativamente surpreso com a baixa qualidade de alguns dos processos que participei. Os maus profissionais da área não notam que suas ações refletem negativamente em todo o RH e em suas empresas, perdendo principalmente em quatro pontos:

. Talentos - Uma seleção inadequada pode não aproveitar potenciais "talentos";

. Qualidade - O profissional contratado através de uma má seleção pode não ter a qualificação requerida ou perder a motivação em pouco tempo, o que afeta a qualidade de seus serviços;

. Custos - A empresa terá maiores custos com recolocação profissional e rotatividade (Turnover);

. Imagem - Os candidatos de hoje podem ser os clientes de amanhã ou quem sabe até futuros colegas de trabalho. Uma seleção mal conduzida traz prejuízos, mesmo que indiretos, à imagem da empresa.

Os 7 casos reais servem para estudo e relatam exemplos dos piores erros que uma empresa pode cometer na seleção de profissionais: descaso, indecisão, mentira, desorganização, falta de critério, falta de bom senso e desrespeito.

Pecado 1 - Descaso

Fui convidado para atuar no subsistema de Cargos e Salários em uma empresa muito conhecida e quase centenária, atuando no mercado de varejo. A resposta do processo veio pelos Correios. Creiam, 8 (oito) meses depois!

Análise do caso - E lá se foi a imagem do RH desta empresa para o buraco. Ao apurar a razão do acontecido descobri que a selecionadora responsável pela vaga entrou de férias e o processo ficou parado. A empresa deve ser boa em benefícios, com umas férias destas, a retenção deve ser fantástica! Era melhor fazer como a maioria das empresas de segunda classe: não dar resposta alguma.

Outros questionamentos - Se a selecionadora sair da empresa ninguém mais será contratado? Perdi um dia todo participando do processo. Será que não merecia uma ligação telefônica na semana do processo ao invés de uma carta depois de meses?

Pecado 2 - Indecisão

Participei em de um processo para uma grande empresa de Telecom, para consultor interno. O processo foi cancelado, reaberto e (pasmem) cancelado de novo!

Análise do caso - Reflete total falta de organização. Que a empresa cancele um processo. Mas cancelar, retomar e cancelar novamente joga a confiabilidade e a imagem do RH da empresa lá embaixo. Pobres são os candidatos que além de perder seu tempo precioso, na busca de outras oportunidades, ainda têm que despender os parcos recursos nas idas e vindas exigidas pelo processo.

Apurando o caso, a responsável pela vaga informou que o cancelamento se deu em função de alterações no budget da área contratante. Uma resposta reconfortante?

Pecado 3 - Mentira

Fui a uma entrevista para uma vaga no DP de um hotel. Fiquei bastante constrangido ao verificar que a responsável pela vaga mentia.

Análise do caso - Um conceito bem difundido é que mentir em processos seletivos é uma "coisa feia". É para o candidato, mas será para o empregador? Descobri a farsa através do simples ato de trocar telefone com outros candidatos. A responsável pelo processo dava informações diferentes sobre seu andamento. Para alguns dizia que estava parado, enquanto na verdade estava avançando com outros candidatos. Cheiro de "cartas marcadas" e total falta de transparência, lisura, respeito e ética que se esperaria de uma rede multinacional que se diz "responsável socialmente".

Se foi uma admissão baseada em QI (Quem Indicou) será que a qualidade do profissional foi adequada? Quanto à imagem, nem preciso falar.

Pecado 4 - Desorganização

Fui convidado para uma entrevista em uma consultoria. A consultora não tinha detalhes sobre a vaga, sabia apenas o nome da empresa contratante, no ramo de Seguros e que o trabalho "talvez" estivesse ligado à área de Benefícios. Dias depois liguei em busca de um feedback. A consultora havia se desligado da empresa e, acredite ou não, ninguém sabia nada sobre a vaga!

Análise do caso - Como alguém consegue fazer uma boa seleção se não souber o que perguntar? Depois que a consultora saiu, a consultoria ficou totalmente perdida. Cheguei a ouvir "Olha, não sei quem está trabalhando esta vaga, aliás nem sabia sobre essa vaga". Insistindo, disseram-se que a vaga havia sido fechada.

O que eles não sabiam é que eu havia resolvido apurar o caso e entrado em contato a responsável pela seleção na empresa e, adivinhem, a vaga estava aberta e aguardando o retorno da "responsável".

Até hoje me pergunto, será que esta consultoria contrata com qualidade? Pobres de seus clientes! Péssima relação custo-benefício em minha opinião.

Pecado 5 - Falta de critério

Este é um clássico. O processo seletivo se resumia em "testes": uma redação, um teste de inteligência não verbal e um questionário de avaliação tipológica. A empresa no ramo de tecnologia bancária em que estive afirmou que eliminaria o candidato se ele não "passasse" em um determinado teste.

Análise do caso - O esquema preferido entre 9 de 10 psicólogas que caíram do balão na área de RH. O preferido era o Wartegg, um teste de personalidade onde o candidato completava desenhos, até que ele foi invalidado pelo Conselho Nacional de Psicologia. E agora? Bom, o que não falta é teste, lá vão os candidatos fazer a redação que será avaliada grafologicamente.

O que temos a avaliar é que a absoluta maioria dos testes (incluindo dinâmicas) são situacionais e subjetivos. Se o candidato bateu o carro no dia do teste vai ter um resultado mau e será eliminado apenas por não estar em um bom dia. Os testes apenas revelam tendências. Um mesmo traço grafológico pode significar criativo ou neurótico, astuto ou teimoso, espontâneo ou blefador.

Vejam, os testes são ótimos como parâmetro (os bons profissionais sabem disso), mas como critério seletivo absoluto é tendencioso e um espanta potenciais talentos.

Pecado 6 - Falta de bom senso

Processos tipo concurso. Participei de vários, cheios de fases, muitos testes e muitas entrevistas.

Análise do caso - Esse é para profissionais que gostam de mostrar "serviço" e desperdiçar os recursos da empresa (custos). Quem sofre na história é o candidato que acaba sujeitando-se às práticas desmedidas na busca do tão sonhado emprego. Nunca esquecerei um processo destes, que participei no final da faculdade para um dos famosos e concorridos programas de trainee.

Daí se inicia uma rotina que, ao final, lhe provará que você definitivamente não é louco (ou é). Redação, conhecimentos gerais, teste de inteligência não verbal, conhecimento específico, teste de personalidade, avaliação tipológica, teste de expressão de raiva, grafológico, dinâmica de grupo, informática (teórico e prático), inglês (teórico e prático), dinâmica de grupo (de novo), vivência com executivos e entrevista com diretores.

Depois da admissão todos os aprovados pensam: "Para que foi tudo aquilo?". O serviço não é nada de mais (super dimensionamento), as chances de carreira são iguais ou menores do que outras empresas. O resultado deste processo seletivo com seis meses de duração foi que 90% dos admitidos desligaram-se antes de completar dois anos na empresa. Definitivamente um péssimo resultado.

Pecado 7 - Desrespeito

Talvez o pior de todos. Marcada a entrevista, em uma empresa do ramo gráfico, o entrevistador simplesmente não apareceu.

Análise do caso - Tanto neste quanto nos outros casos em que não há respeito pelo candidato sempre surgirá a pergunta: se candidatos são tratados desta forma, como serão os funcionários?

Os fatos relatados dispensam maiores explicações. A questão é que muitos profissionais da área, por comodidade ou desconhecimento têm atuado de forma irresponsável na condução dos processos seletivos. Para o bem da empresa e do próximo, esta na hora destes profissionais reverem alguns conceitos!

Autor: Luciano Henrique Trindade

Postado por Luiz Lorge

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